segunda-feira, 26 de maio de 2014

Albert Roche

Novembro de  1918: a guerra, finalmente, terminou [1]
Hora de esquecer o medo, os sofrimento e restrições, fim do regime alemão; após 47 anos anos, a Alsácia volta a ser Francesa. Corações em festa, milhares desfilam pelas ruas de Strasburgo, cantando La Marseillaise [hino nacional da França] e aclamando o generalíssimo Foch sob a prefeitura.
De quepe, o homem aparece na sacada. A multidão delira, grita o nome dado mais tarde à célebre avenida parisiense: “Foch! Foch! Viva Foch!” O general saúda a multidão, volta para dentro do prédio e retorna acompanhado de um modesto soldado de segunda classe. Com um gesto, Foch exige silêncio e apresenta o indivíduo que porta a cruz da Legião de Honra: “Cidadãos da Alsácia, eu vos apresento vosso libertador, Albert Roche, o primeiro soldado da França!”
Mas, quem é esse jovem? O que ele fez de extraordinário para merecer tanta honra e esse título invejável de “primeiro soldado da França”?



A guerra não quer saber de Albert Roche

Nascido em 5 de março de 1895 em Réauville, no bairro de Montélimar, Albert Séverin Roche vem de uma família numerosa de agricultores. Como vários jovens, ele tem 18 anos quando se apresenta no conselho de alistamento. Mas a decepção é grande: reprovado!
No momento da declaração da guerra, em agosto de 1914, ele decide se alistar mesmo assim. Contra a vontade do pai, o jovem quer servir seu país e “fazer a guerra” contra os Boches (alemães).  Para isso, ele sai do povoado durante a noite e se dirige ao campo de Alban: dizem que eles aceitam voluntários por lá. De fato, ele é aceito. Mas vem a segunda decepção: mal amado e mal avaliado, o jovem não conhece nada da guerra além dos quatro muros do campo de instrução. Roche se enfurece. Foge. É pego e vai para a cadeia. Nada leva a crer no futuro radiante do militar ao fim da guerra. 


Albert Roche, o caçador dos 9 ferimentos e 1180 prisioneiros

Na prisão, o “desertor” requer ser movimentado para o front. Afinal de contas, não é essa a sorte reservada aos maus soldados: ser enviados ao front para morrer? O Oficial aceita e Roche junta-se ao 27º batalhão de caçadores alpinos empenhados em Aisne. Lá, Roche vai fazer a guerra ao seu modo.
Enviado ao campo inimigo com dois camaradas para destruir um ninho de metralhadoras, o jovem Roche joga um punhado de granadas dentro do tubo de uma chaminé onde os alemães se esquentam. A explosão mata vários, e os feridos rendem-se facilmente, acreditando estar sendo atacados por um batalhão inteiro. Um ato audacioso que impõe rapidamente o respeito dentro do batalhão: Roche não é mais o “mal amado”.
 
Sozinho, Roche defende uma trincheira em Sudel, na Alsácia: todos os seus camaradas estão mortos, por isso ele coloca os Lebel [fuzis] deles um ao lado do outro sobre toda a linha e passa de um fuzil a outro. Ele carrega, atira, recarrega, atira de novo. A astúcia funciona e os alemães recuam. Alguns meses mais tarde, um novo ato de bravura e audácia: feito prisioneiro com o seu tenente, Roche pula em cima do oficial que está lhe interrogando, toma seu revólver e rende os 12 guardas alemães. Nesse dia, carregando seu tenente nas costas, Roche faz 42 prisioneiros.
Com tiros de fogo e golpes de blefe, aquele-que-ninguém-queria faz cerca de 1180 prisioneiros durante a Grande Guerra.
Albert Roche mandado ao pelotão de fuzilamento  por abandono de posto
No Chemin des Dames [2], o capitão do batalhão é gravemente ferido entre as linhas de batalha. Escutando somente sua coragem, Roche voa em seu socorro e rasteja cerca de seis horas para encontrá-lo e mais quatro horas para trazê-lo. Ele entrega o capitão inconsciente aos maqueiros: o capitão está inconsciente e Roche, esgotado, adormece num buraco de vigilância.
Acordado por um tenente francês, ele é imediatamente preso por “abandono de posto: a pena é execução dentro de 24 horas”. Roche não tem como se explicar, não tem nenhuma testemunha e, em período de motins [3] os processos são rápidos, rápidos demais. É conduzido a uma trincheira para ser fuzilado, mas um estafeta enviado pelo capitão o salva, vindo em socorro do valoroso soldado. Daí, a lenda de Albert Roche nasce e corre a França.


Albert Roche, um herói esquecido

Depois de ter participado das mais grandiosas cerimônias, ter ladeado os grandes, comido à mesa do rei da Inglaterra e acompanhado os restos mortais do Soldado Desconhecido em Paris, Roche retorna a  Réauville, onde casa-se com uma moça de Colonzelle e trabalha fazendo caixas de papelão.
Morre dia 15 de abril de 1939, aos 44 anos, atropelado por um carro ao descer do ônibus voltando da fábrica. Como escreve o historiador Pierre Miquel em La Grande Guerre au jour le jour (A Grande Guerra no dia a dia) das Éditions Pluriel: «Esse homem atravessou quatro anos de guerra, foi ferido nove vezes, passou mil vezes perto da morte, por muito pouco não foi fuzilado injustamente como amotinado. Escapou de todos os perigos, de todos os acidentes [...] e morre vinte anos depois, voltando para casa, ao descer do ônibus”.
Hoje, o seu nome não está entre aqueles que se ensinam na escola, que enfeitam os livros de história ou os dicionários. Vítima do tempo, o tempo que prefere os grandes – aqueles que modelaram o século – somente um busto na frente da casa onde nasceu evoca aquele que foi – e será – o “primeiro soldado da França”.

1 - http://www.suite101.fr/content/larmistice-du-11-novembre-1918-fin-de-la-grande-guerre-a20112
2 - http://www.suite101.fr/content/les-grandes-batailles- de-la-premiere-guerre-mondiale-a22153
3 - http://www.suite101.fr/content /les-mutins-de-la-grande-guerre-ou-la-greve-des-tranchees-a26196
4 - http://www.suite101.fr/content/sous-larc-de-triomphe-le-soldat-inconnu-de-la-grande-guerre-a24026
Artigo: http://suite101.fr/article/premiere-guerre-mondiale--albert-roche-premier-soldat-de-france-a27123

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